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Como as sanções à Rússia afetam o comércio internacional do Brasil?

 

Com o endurecimento do conflito no Leste Europeu, novas sanções econômicas foram impostas à Rússia, trazendo implicações diretas e indiretas para diversos setores econômicos do Brasil.

 

PRODUTOS COM MAIOR POTENCIAL DE DESVIO DE COMÉRCIO PARA O BRASIL

Setores que tendem a se beneficiar caso restrições ao comércio com a Rússia sejam elevadas: Petroleiro, Madeireiro, Mineração e Siderúrgicas. Além dos preços do petróleo, dificuldades já estão sendo registradas nas compras da commodity russa, com escassez do produto também podendo favorecer as quantidades exportadas pelo Brasil, beneficiando o segmento de Extração e Refino. 

Exportações de aço e minério de alumínio, especialmente para a Europa; e Ferro Gusa para os Estados Unidos tendem a se elevar. Além disso, se beneficiam através do efeito preço: exportações de madeira serrada, compensada e bruta para os Estados Unidos e Europa.

 

MONITORAMENTO DE SETORES SENSÍVEIS

MINERAÇÃO E SIDERÚRGICA

Diante do receio que a oferta global do minério de ferro possa ser afetada, o preço da tonelada do minério de ferro (MF) no mercado à vista voltou a superar o patamar de US$ 150 (03.02.2022), maior preço desde 31.08.2021. Preço do aço tende a se elevar no curto prazo. 

Outro impacto pode vir por meio da elevação da demanda a favor de produtos brasileiros, tendo em vista as sanções impostas às exportações (aço bruto e semi acabados como placas) da Rússia e os problemas nas cadeias produtivas da Ucrânia.

O alumínio, usado em veículos elétricos e aviões, subiu 1,8%, renovando o patamar recorde de US$ 3.457 a tonelada. A Rússia responde por cerca de 6% do da oferta mundial de alumínio. Por outro lado, a interrupção nos embarques de MF e carvão metalúrgico deve elevar os custos siderúrgicos. 

 

FERTILIZANTES

O Ministério da Indústria e Comércio da Rússia recomendou que os exportadores de fertilizantes do país suspendam os embarques ao exterior até que a situação nos portos se normalize e que sejam garantidas as entregas das cargas. Segundo o Ministério, haveria “sabotagem de empresas de logística estrangeiras para não entregarem produtos russos e alerta que a interrupção no envio de fertilizantes ao exterior pode afetar a segurança no fornecimento de vários países”. 

Avaliações apontam para possível falta de potássio, o que pode afetar a produtividade da agricultura brasileira na próxima safra; fósforo e nitrogênio não devem chegar a sofrer desabastecimento, mas preços tendem a seguir elevados, resultando em aumento de custos e mais alta de preço nos alimentos. 

Sobre a indústria nacional e capacidade de suprir a demanda: A cadeia de fertilizantes encolheu 33% nos últimos 20 anos, enquanto a demanda subiu 400% no período. Com isso, a dependência de importações saiu de 20%, há 20 anos, para os atuais mais de 80% (Embrapa Solos).

 

BEBIDAS

Rússia e Ucrânia são importantes produtores de cevada nas exportações mundiais, ocupando atualmente o segundo e quarto lugar respectivamente. Dessa forma, avalia-se que os preços da cevada apresentem forte elevação nesse período com impactos nos custos das empresas que dependem desse grão para produção. 

Adicionalmente, os custos também devem ser pressionados diante da elevação dos custos logísticos e de frete, que já se encontram em patamares elevados com a pandemia. No que diz respeito especificamente à Ambev, empresa de maior representatividade do mercado cervejeiro do País, 50% da cevada utilizada pela empresa é atendida por meio da produção nacional e outros 50% são importados da Argentina e Uruguai. 

 

TRANSPORTES

A elevação do preço do petróleo tende a pressionar os preços dos combustíveis, com preocupações concentradas no impacto sobre os custos do transporte rodoviário e aéreo. 

No transporte marítimo, o cancelamento de reserva de capacidade para mercadorias russas e o fechamento de portos na Ucrânia estão aumentando as pressões sobre os gargalos logísticos, renovando a desestruturação observada desde o advento da pandemia. Assim, fretes e seguros marítimos estão atingindo cotações recordes em algumas rotas. 

Esse problema é agravado pelos impedimentos de uso do espaço aéreo (Europa ↔Rússia), aumentando os custos das companhias aéreas, os fretes cobrados e o tempo de entrega. No Brasil, portos do Paraná, principal entrada para fertilizantes vindos da Rússia, Ucrânia e Belarus, tendem a ser impactados pela retração nas cargas a granel. Na indústria aeronáutica, preocupa a elevação nos preços do alumínio e a possível escassez de titânio, insumos importantes da indústria.

 

PETRÓLEO

Frente à escalada de preços, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, (OPEP+), decidiu aumentar a oferta de petróleo, ainda que em escala modesta, a partir de abril. Tal movimento, porém, não representa guinada no processo já em curso de elevação gradual da produção, que havia sido fortemente reduzida em resposta à pandemia.

O suprimento adicional da commodity deve se traduzir em alívio, mas avalia-se que será incapaz de alterar as incertezas que têm dado suporte à sustentação de preços, considerando a relevância da produção russa no mundo. Adicionalmente, há relatos na imprensa de que refinarias, principalmente na Europa, têm se recusado a comprar petróleo da Rússia e os bancos têm se negado a financiar embarques, diante de incertezas quanto à implementação de sanções mais significativas no setor (informações de operadores do setor petroleiro e banqueiros). 

O impacto dessas medidas, no entanto, deve ter efeitos limitados pela dependência energética europeia da Rússia. Vale destacar ainda que empresas de transporte marítimo ocidentais estão apreensivas sobre navegar no Mar Negro ao sul da Ucrânia e se defrontam com o aumento nas taxas de seguro para operar perto da zona de guerra. 

 

DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS

A Petrobras confirmou que vai seguir com o compromisso de manter os preços de combustíveis no Brasil em equilíbrio com o mercado internacional, no entanto, evitará repassar volatilidades externas causadas por eventos conjunturais. Contudo, a defasagem com a paridade internacional se acentuou e, segundo estimativas de mercado, já atinge o R$ 1 no diesel – o maior patamar desde que a empresa começou, em 2016, a vender combustíveis com preços alinhados à paridade de importação. 

Nessa esteira, vale destacar que a estatal está há 49 dias sem mexer nos preços nas refinarias e um novo reajuste deve ser questão de tempo, à medida que o agravamento da guerra na Ucrânia pressiona a cotação da commodity. 

 

GÁS

O preço do gás natural bateu novos recordes na Europa. Os temores em relação ao abastecimento se agravaram com esforços do mercado para evitar exposição à estatal russa Gazprom. Os contratos futuros usados como referência chegaram a subir 60%. Compradores, tradings e operadores de navios continuam receosos em lidar com suprimentos russos.

Danos à infraestrutura da Ucrânia podem interromper o escoamento de gás e as sanções podem eventualmente se estender ao comércio de energia. Por enquanto, os fluxos russos continuam e até aumentaram desde a invasão da Ucrânia. A Europa depende da Rússia para obter cerca de um terço do gás que consome. Qualquer interrupção poderia manter os preços altos por mais tempo, dificultando o reabastecimento dos estoques durante o verão e prolongando a crise de energia. 

Os governos da região estão tentando importar mais GNL, concorrendo com compradores asiáticos, que também começam a reabastecer seus estoques a partir de março. Vale destacar que, no Brasil, o GNL importado supre cerca de 8% da demanda por gás natural, sendo diretamente afetado pelo preço internacional, impactando usinas termelétricas, indústria e pressionando o mercado de distribuição.

 

QUÍMICO

Os custos da indústria química brasileira, que já vinham pressionados pela pandemia de Covid-19, tendem a subir ainda mais com a principal matéria-prima da petroquímica no País, a nafta, um derivado do petróleo. Com o barril de petróleo acima de US$ 110, novo aumento tende a vir nos próximos meses. 

Ainda há muitas incertezas quanto às sanções que serão impostas à Rússia e como isso afetará também o preço do gás natural, que é usado como matéria-prima e energia no setor industrial. Vale destacar que os preços no mercado local já estavam pressionados pela maior demanda para geração de energia elétrica. 

Ainda que pontualmente, diante da ociosidade em alguns segmentos da indústria química local, é possível que a dificuldade de acesso a produtos e insumos importados estimule compras domésticas. Essa instabilidade poderia ajudar a indústria local a elevar a produção, ao menos no curto prazo, mas sem efeito em produtos como fertilizantes.